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Combate à fraude requer mais empenho do setor de seguros

Segundo os dois profissionais que discutiram o assunto em palestra da APTS, existem soluções para reduzir o número de sinistros fraudulentos, que hoje correspondem a 20% das indenizações pagas.



Alguns dos casos mais famosos de sinistros fraudulentos detectados pelo mercado de seguros foram relados em detalhes em palestra promovida pela APTS, nesta quarta-feira, 20 de agosto. Paulo Rogério Haüptli, sócio-diretor da Fox Reguladora de Sinistros, e José Cesar Caiafa Junior, diretor-geral da APTS, profissionais com ampla experiência na área de regulação de sinistros, apresentaram a palestra Sinistros Criminosos.



Caiafa comentou casos antigos de fraudes contra o seguro, como os numerosos incêndios em depósitos de algodão ocorridos 60 anos atrás, quando essa matéria-prima da indústria têxtil começou a perder espaço para os tecidos sintéticos. “Houve uma sequencia de incêndios, mas não se sabia como ocorriam. Até que um regulador do IRB ao observar em um depósito várias poças d’água descobriu em uma delas um gato ensopado com gasolina”, disse Caiafa. Os procedimentos de investigação de sinistros no Brasil começaram nessa época, segundo ele.



Paulo Rogério, que atua diariamente na investigação de sinistros, relatou casos recentes de sinistros em transporte, como roubo e desvio de cargas, além de sinistros em seguro de vida. Um dos casos de fraude foi cometido pelos beneficiários de um segurado com doença terminal, que financiaram um imóvel no valor de R$ 1 milhão e, em seguida, contrataram um seguro de vida com a garantia de liquidação das parcelas em caso de morte do segurado.



“A fraude era evidente, mas difícil de comprovar porque a família não permitiu o acesso ao prontuário médico. A saída foi recorrer ao cartorário, que acabou confessando ter efetivado o negócio no leito de morte do segurado”, contou. Ele também comentou sobre as fraudes repetitivas, como a que ocorreu em Belém (PA), onde um mesmo cadáver foi utilizado por fraudadores para receber cinco indenizações de seguro de vida em estados distintos do país.



Segundo Paulo Rogério, as fraudes em seguro de vida representam 22% dos sinistros pagos neste ramo. Entretanto, apenas 1% é identificado e destes 10% geram inquérito criminal contra o fraudador. Para ele, a solução seria a criação de um cadastro único de segurados, beneficiários e sinistros, nos moldes do que existe no ramo de automóvel. “É mais difícil detectar fraude em seguro de vida por falta desse cadastro”, disse.



Em sua opinião, o mercado de seguros tem priorizado o combate à fraude em ramos elementares em detrimento do seguro de vida. “O mercado se preocupa mais com a fraude em seguro de automóvel, mas deveria dar mais atenção também ao seguro de vida, que além de oferecer importante proteção, poderia custar menos não fosse o custo da fraude”, disse.



Uma alternativa, a seu ver, seria a criação do RG único no país, algo parecido com o modelo utilizado nos Estados Unidos, em que cada habitante utiliza apenas um número de identificação, dispensando os demais documentos. Paulo Rogério vai ainda além ao propor a criação de um banco de dados biométrico nacional, com a identificação de recém-nascidos pelas digitais e iris. “Mas, infelizmente, o governo não tem um projeto para este fim. Enquanto isso, as fraudes se alastram”, lamentou.



De acordo com o diretor da APTS, o tema “sinistros criminosos”, abordado na palestra, fará parte do conteúdo programático de um curso que a entidade está preparando para novembro.


Texto: Márcia Alves

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